
O portal eletrônico Valongo: Justiça pela Memória do Cais, desenvolvido pelo Conselho da Justiça Federal (CJF) e lançado em 19 de novembro de 2025, é uma plataforma digital dedicada a reunir conteúdos históricos, artísticos, educativos e multimídia sobre o Cais do Valongo, maior porto de chegada de africanas e africanos escravizados das Américas.
O Cais do Valongo fica na zona portuária do Rio de Janeiro, entre as atuais ruas Coelho e Castro e Sacadura Cabral. Foi o principal porto de entrada de africanos escravizados nas Américas e é considerado um sítio arqueológico de Patrimônio Mundial da Unesco.
O Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) destaca que iniciativas como essa fortalecem o papel da Justiça Federal na preservação do patrimônio histórico, reafirmando o compromisso institucional com a promoção da memória, da educação histórica e da reparação.
Para o Tribunal, o projeto representa um avanço essencial no reconhecimento das violências estruturais que moldaram o país e no incentivo à construção de uma sociedade mais consciente e inclusiva.
Os números evidenciam a relevância histórica do Cais do Valongo e confirmam o crescente interesse pela memória da escravização. O portal repercutiu amplamente dentro e fora do país, registrando mais de 3,5 mil interações e acessos provenientes de oito países: Reino Unido, Estados Unidos, Itália, Argentina, Canadá, Alemanha, Japão e México, além do Brasil.
O portal reúne produções multimídia, obras artísticas, documentos históricos e conteúdos educativos que aprofundam a compreensão sobre a relevância social, jurídica e cultural do Cais do Valongo.
Desenvolvido pela Assessoria de Comunicação Social do CJF, o ambiente digital convida o público a revisitar a história, reconhecer as marcas da escravização e compreender o compromisso do Judiciário com a garantia de direitos, o resgate da memória e a reparação. O Valongo permanece como testemunho material de “900 mil vidas arrancadas de sua terra. 20 anos de desembarques forçados. 100 anos de silêncio imposto.” Um passado doloroso que impulsiona a busca por dignidade, conhecimento e justiça histórica.
A linha do tempo presente no portal conduz o visitante desde a construção do cais, em 1811, até o reconhecimento como Patrimônio Mundial pela Unesco, em 2017, iluminando séculos de apagamento e convidando à reflexão sobre a responsabilidade contemporânea na preservação do sítio arqueológico.
Pontes para o passado
Entre 2011 e 2012, escavações arqueológicas revelaram milhares de objetos como amuletos, búzios, anéis, moedas, cachimbos e outros artefatos ligados às práticas culturais e espirituais das pessoas escravizadas. No portal, esses itens formam um acervo que testemunha resistência e estratégias de sobrevivência, transformando vestígios materiais em pontes para o passado.
A plataforma disponibiliza ainda o livro "Valongo: Justiça pela Memória do Cais", resultado de extensa pesquisa documental, histórica e acadêmica, que reconstrói a trajetória do sítio de forma sensível e didática. As aquarelas digitais assinadas pela servidora Maria Clara Teixeira de Assis (Ascom/CJF) ampliam a experiência de leitura ao traduzirem, por meio de cor e forma, a força da memória e o dever de reparação assumido pela Justiça Federal.
O portal também oferece um podcast com três episódios, disponível no próprio site e no Spotify, no qual especialistas tratam de escravidão, justiça racial, memória e do papel do Judiciário no processo de reparação histórica. As discussões ampliam a compreensão sobre a complexidade do tema e reforçam a importância de iniciativas institucionais voltadas à memória e ao reconhecimento das violências históricas.
Inspirado em decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro, o projeto reafirma o compromisso do Judiciário com a equidade racial e com a preservação do sítio arqueológico do Cais do Valongo, Patrimônio Mundial da Humanidade e símbolo material da violência do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas.
A iniciativa inclui ainda a exposição “Valongo: Justiça pela Memória do Cais”, aberta ao público até 19 de dezembro na Galeria Cela do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), com entrada gratuita, reunindo projeções, imagens ampliadas e experiências imersivas que aproximam o visitante dessa história.
Por meio do portal, também é possível assistir à aula magna realizada pelo Centro de Estudos Judiciários (CEJ/CJF), em parceria com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) e o CCJF, com apoio da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) no lançamento do projeto.
O TRF6 reafirma seu compromisso com a memória histórica, a justiça racial e a reparação institucional, reconhecendo o papel essencial da Justiça Federal na preservação do patrimônio cultural e na promoção de uma sociedade mais consciente, justa e inclusiva.
