O Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) reafirma seu compromisso com a inclusão e o reconhecimento de valores literários das minorias ao apoiar iniciativas que promovem a visibilidade e a representatividade. Exemplos dessas ações incluem a recente inauguração de estátuas em homenagem a figuras históricas negras em Belo Horizonte, uma medida que não apenas celebra a rica contribuição cultural dessas personalidades, mas também promove um ambiente de igualdade e diversidade.
O juiz federal Osmane Antônio dos Santos, integrante da Comissão de Igualdade Racial do TRF6, elogiou a ação. "Essa é uma homenagem mais do que merecida. Primeiro, pelo reconhecimento dos legados deixados pela antropóloga Lélia Gonzalez e pela escritora Carolina Maria de Jesus. Segundo, pela representatividade de serem as primeiras pessoas negras agraciadas com estátuas na cidade de Belo Horizonte. Terceiro, porque o local (Teatro Francisco Nunes, no centro da cidade), também não poderia ser mais expressivo, pois ambas deixaram indeléveis contribuições para a cultura nacional como intelectuais, professoras, escritoras e ativistas sociais que foram", afirmou o juiz federal.
A Resolução PRESI 34 criou o “Comitê de Equidade Racial” na 6ª Região, considerando os termos da Resolução nº 490 do Conselho Nacional da Justiça (CNJ) que criou o Fórum Nacional do Poder Judiciário para a Equidade Racial (FONAER).
Primeiras Estátuas de Pessoas Negras em Belo Horizonte
No dia 30 de junho, Belo Horizonte recebeu as duas primeiras estátuas em homenagem a pessoas negras. As obras representam a antropóloga Lélia Gonzalez e a escritora Carolina Maria de Jesus, e estão em frente ao Teatro Francisco Nunes. De acordo com a prefeitura, ambas as estátuas irão integrar o Circuito Literário de estátuas de escritores importantes, como Carlos Drummond de Andrade e Henriqueta Lisboa, entre outras personalidades.
Eliane Martins, mestre em relações raciais, foi a responsável pela iniciativa de homenagear a memória de mulheres negras. Segundo Eliane, faltava representatividade no cenário urbano: "Todas as estátuas em BH são de pessoas brancas, a maioria absoluta são homens brancos", afirmou. Já Léo Santana foi quem confeccionou ambas as obras.
Lélia Gonzalez foi condecorada várias vezes. Em 2010, foi criado pelo governo da Bahia o Prêmio Lélia Gonzalez, com o objetivo de estimular políticas públicas voltadas às mulheres nos municípios baianos. Uma década depois, a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) criou o Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política, que visa motivar a conclusão de trabalhos de pesquisadores(as) pretos(as) e pardos(as) sobre questões raciais, como discriminação racial e desigualdade. Angela Davis, uma importante filósofa estadunidense, afirmou que "aprende mais com Lélia do que os brasileiros aprendem com ela". Angela declarou também que os brasileiros deveriam valorizar mais a Lélia.
Carolina Maria de Jesus foi uma das escritoras mais lidas do Brasil. Sua primeira obra, "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", vendeu cerca de 3 milhões de livros em 16 idiomas. Em uma semana, este livro obteve um sucesso estupendo, vendendo mais de 10 mil exemplares traduzidos para treze idiomas e distribuídos em quarenta países. Carolina foi homenageada diversas vezes, como no Museu Afro-Brasil, localizado no Parque Ibirapuera, onde a biblioteca leva seu nome. Ela também recebeu diversas outras honras, como o documentário "Favela: A Vida na Pobreza", realizado a partir do livro "Quarto de Despejo", onde a própria Carolina é a protagonista. Este documentário foi publicado no Brasil em 2014 e gravado em 1971.
Carolina também é lembrada como uma das vozes mais autênticas da literatura brasileira, destacando as vozes silenciadas das favelas e das comunidades marginalizadas.
A inauguração das estátuas de Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus em Belo Horizonte não só reconhece o valor e a contribuição dessas notáveis mulheres negras, mas também sinaliza um passo importante em direção à inclusão e à representatividade no espaço público. A iniciativa reforça o compromisso da cidade e do TRF6 com a promoção da diversidade e da justiça social, celebrando a rica herança cultural das minorias. Esses monumentos servem como um lembrete da importância de valorizar e reconhecer todas as vozes que compõem a nossa sociedade, garantindo que histórias de resistência e superação sejam eternamente lembradas e celebradas.
Com informações do G1