TRF6 marca presença no II Seminário de Direitos Indígenas

A imagem mostra um grupo de nove pessoas, incluindo homens e mulheres, posando em um ambiente interno com um grande mural artístico ao fundo. O mural apresenta figuras humanas e formas geométricas em cores vibrantes como azul, roxo, verde, amarelo e vermelho.

Da esquerda para a direita, os indivíduos são:

Um homem de cabelos escuros vestindo um blazer cinza sobre uma camisa clara e calças jeans. Ele sorri.
Uma mulher com cabelos escuros presos, vestindo um vestido preto sem mangas. Ela sorri.
Um homem de cabelos grisalhos, usando um terno escuro com camisa branca e gravata preta.
Uma mulher loira com cabelos compridos, vestindo um casaco marrom e calças beges.
Um homem de meia-idade com cabelos grisalhos, vestindo um terno preto com camisa branca e gravata azul.
Uma mulher com cabelos escuros, vestindo uma camiseta preta com uma estampa branca e calças beges. Ela sorri.
Uma mulher de cabelos longos e escuros, usando óculos e um blazer cáqui sobre uma blusa escura e jeans. Ela sorri.
Uma mulher de cabelos curtos e escuros, usando óculos e um terno cinza escuro sobre uma blusa branca.
Um homem com óculos, vestindo um terno azul-marinho e gravata vermelha. Ele sorri.

O Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) participou do II Seminário de Direitos Indígenas, organizado pela Universidade Federal de Minas Gerais por meio do Coletivo de Estudantes Indígenas da UFMG e pelo próprio Tribunal, com o tema “Memória, Verdade e Reparação”. O desembargador federal Álvaro Ricardo de Souza Cruz apresentou a palestra “Relatório Figueiredo e o Genocídio Indígena”. "A estudante de Direito e vice-coordenadora do COLEI, Anaíne Anikualo, apresentou a exposição 'Enfrentando desafios: Justiça para os Povos Indígenas', enquanto o professor da Faculdade de Direito da UFMG, Emilio Peluso Neder Meyer, abordou o tema 'Justiça de Transição'."

A imagem exibe um grupo de oito pessoas, incluindo homens e mulheres, sentadas atrás de uma longa mesa de madeira em um palco ou plataforma elevada. Ao fundo, um grande mural colorido com figuras abstratas e cenas urbanas serve como pano de fundo.

O piso do palco é de madeira e a iluminação é artificial.

A abertura do Seminário contou com uma oração xakriabá do estudante de enfermagem e membro do COLEI, Douglas Xakriabá; a primeira palestra foi do magistrado do TRF6, que buscou na Filosofia pré-socrática questionamentos iniciais sobre nossa identidade como indivíduos e como povo, para logo em seguida provocar uma reflexão: que tipo de sociedade formamos quando negamos as violências cometidas contra os povos que sempre habitaram este território?

Álvaro Ricardo relatou a história do Relatório Figueiredo, elaborado em 1967 pelo procurador Jader de Figueiredo Correia, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima. Embora o objetivo inicial fosse investigar casos de corrupção no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), o documento revelou, em sua maior parte, evidências contundentes de crimes cometidos por agentes do Estado brasileiro contra povos indígenas em diversas regiões do país. “O documento é extremamente importante porque é o único, no período da ditadura, em que há uma admissão pública do governo sobre práticas de tortura e assassinato. É um documento ímpar, e pouquíssimas pessoas têm conhecimento disso”, afirmou o desembargador federal, que também destacou que a negligência com a memória histórica impede a construção de uma identidade forte na sociedade brasileira.

A imagem centraliza um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e óculos, sentado a uma mesa de madeira escura. Ele está segurando um microfone e com a boca ligeiramente aberta. Há dois copos de água sobre a mesa, um à esquerda e outro à direita do microfone. Ao fundo, há um grande mural artístico com figuras abstratas e coloridas. O ambiente é formal.
Desembargador federal Álvaro Ricardo de Souza Cruz

Em sua palestra, o magistrado relembrou que é importante reconhecer o genocídio que ainda ocorre contra povos originários, no Brasil e em outros lugares do mundo: “Quando a gente fala em genocídio — e o que aconteceu e acontece nos dias de hoje segue sendo um genocídio contra os povos originários — é preciso lembrar a fala de David Kopenawa e Aílton Krenak: o Brasil foi invadido em 1500. São 525 anos de guerra, de massacre, 525 anos de pessoas que ignoram o mínimo: quem são os indígenas, quem são originários.”

Acesso à Justiça e à reparação ainda são desafios

Ainda que os direitos referentes aos povos indígenas estejam garantidos pela Constituição Federal de 1988, a concretização deles ainda segue como um dos principais desafios da sociedade brasileira, bem como a transposição de barreiras geográficas entre os povos aldeados e as sedes de Tribunais.

"Os povos indígenas produzem direito o tempo todo. Nós sabemos disso, vocês sabem disso. Não é só entrar numa faculdade e meio acadêmico que vai fazer com que a gente tenha conhecimento. Não é isso aqui [o Seminário] que vai nos tornar mais ou menos adaptáveis a uma sociedade. Nós somos uma sociedade, muito forte e muito organizada. Somos nós que enfrentamos, com toda a nossa coragem, com toda a nossa ancestralidade, os diversos ataques que têm ocorrido”, afirmou Anaíne Anikualo em sua exposição de abertura do Seminário.

A imagem apresenta duas mulheres sentadas a uma mesa de madeira escura, com um grande mural colorido ao fundo.

À esquerda, uma mulher de óculos e cabelo preso, com um casaco vermelho sobre uma blusa escura, está sentada, com expressão séria. À direita, uma mulher mais jovem, com longos cabelos escuros e brincos, está falando em um microfone que está à sua frente. Suas mãos estão sobre a mesa e há um copo de água perto dela.
Estudante de Direito e vice-coordenadora do COLEI, Anaíne Anikualo

Neste sentido, finalmente a palestra de Emílio Peluso relembrou que a interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF) da Lei de Anistia, promulgada em 1979, trouxe danos à possibilidade de responsabilização dos perpetradores de crimes contra a humanidade e de graves violações dos direitos humanos — fatos que atingiram especialmente os povos indígenas. “O que caracteriza um crime contra a humanidade é o fato de ser praticado de forma sistemática contra a população de um determinado Estado. Isso ocorreu diversas vezes durante a ditadura de 1964 a 1985, especialmente em relação aos povos indígenas, de maneira talvez ainda mais evidente. Ao se reconhecer como crime contra a humanidade, a consequência é que tais atos não podem ser anistiados e não estão sujeitos à prescrição — entendimento que, infelizmente, o Supremo adotou de forma diversa em 2010”, concluiu o professor da UFMG.

A imagem exibe duas pessoas sentadas a uma mesa de madeira escura, com um grande mural colorido ao fundo.

À esquerda, um homem está sentado com um laptop aberto à sua frente e um copo de água ao lado. Ele segura um microfone e parece estar falando. À direita dele, uma mulher com longos cabelos escuros está sentada, olhando para o homem, com um microfone à sua frente e um copo de água ao lado.
Professor da UFMG, Emílio Peluso

Sobre o Seminário

Essa foi a segunda edição do Seminário de Direitos Indígenas, que promove a divulgação de fatos históricos, a preservação da memória e o reconhecimento de violações sofridas pelos povos indígenas, notadamente durante o período da Ditadura Civil-Militar brasileira. O objetivo do encontro é conscientizar a comunidade acadêmica, jurídica e também toda a sociedade acerca dos direitos humanos e sua concretização, além de estimular a compreensão da necessidade da justiça de transição.

O Seminário ainda contou com a participação do professor da Faculdade de Direito da UFMG e coordenador acadêmico do evento, Fernando Gonzaga Jayme; do procurador da República do Ministério Público Federal, Edmundo Antônio Dias; da desembargadora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Shirley Bertão; da advogada Lethicia Reis de Guimarães, representando o Conselho Indigenista Missionário (CIMI); da professora da Faculdade de Direito do Centro Universitário Dom Hélder Câmara, Mariza Rios; e do diretor-geral do Movimento Nacional de Direitos Humanos em Minas Gerais, Lucas Teles.

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