
São Luís (MA) – A filósofa, escritora e ativista Djamila Ribeiro foi a palestrante de abertura do Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicação do Sistema de Justiça (Conbrascom), realizado em São Luís, no Maranhão. Com uma fala profunda e acessível, Djamila abordou temas como equidade de gênero e raça, feminismo negro, justiça social e a importância da interseccionalidade como ferramenta para transformar as políticas públicas.
Promovido anualmente pelo Fórum Nacional de Comunicação e Justiça (FNCJ), em parceria com o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), o Conbrascom reúne jornalistas e assessores de comunicação social de tribunais de todo o país, promovendo a troca de experiências e o fortalecimento da comunicação pública no Poder Judiciário. A jornalista Vera Carpes, chefe da Assessoria de Comunicação Social do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), representa a instituição no encontro.

Logo no início de sua fala, Djamila destacou que a comunicação institucional precisa ser aliada da cidadania e da democracia. Para isso, é necessário reconhecer que nem todos os sujeitos partem do mesmo lugar na sociedade. Ela lembrou que o Brasil viveu 350 anos de escravidão e que, após a abolição, não houve políticas de reparação para a população negra. Ao contrário: instaurou-se um processo de exclusão e apagamento histórico.
Segundo Djamila, não basta falar em igualdade de forma abstrata. É preciso aplicar o princípio da equidade, entendendo as diferenças de ponto de partida entre os grupos sociais. Ela explicou o conceito de interseccionalidade, desenvolvido pela jurista Kimberlé Crenshaw, como forma de compreender as sobreposições entre racismo, machismo, classismo e outras formas de opressão. Essa abordagem ajuda a identificar como determinados grupos – como mulheres negras, indígenas ou pessoas com deficiência – enfrentam barreiras específicas e, por isso, devem ser priorizados nas políticas públicas.
Em sua fala, Djamila defendeu o papel ativo da comunicação pública na promoção de uma cultura institucional mais inclusiva, diversa e empática. Lembrou que, muitas vezes, a linguagem institucional desconsidera os sujeitos historicamente excluídos, seja pelo uso de termos genéricos, seja pela falta de representatividade nas campanhas e ações. Para ela, a comunicação deve servir como instrumento de reparação, não de reprodução de desigualdades.

A escritora também pontuou que a neutralidade, no Brasil, tem cor, classe e gênero. Ao se dizer neutra, uma instituição pode acabar reproduzindo visões excludentes. Por isso, propôs uma reflexão ética sobre o papel de quem comunica: “Temos o poder da narrativa. Precisamos usá-lo com responsabilidade”.
O encerramento da palestra foi marcado por um chamado ao compromisso coletivo com a transformação social. Djamila reafirmou que empatia é uma construção política, não apenas um sentimento pessoal. “A escuta é uma forma de construir democracia. E democracia se faz com pluralidade, com vozes diferentes sendo ouvidas, respeitadas e representadas”, afirmou.
A participação de Djamila Ribeiro no Conbrascom reforçou a importância de pensar a comunicação pública sob a lente dos direitos humanos, da inclusão e da justiça histórica. Sua fala trouxe contribuições valiosas para os profissionais que atuam na construção das narrativas do Judiciário e de outras instituições públicas.



