A arte que demarca a história e a urgência da vida Maxakali

Povo do canto no Tribunal: Maxakalis levam a força da cultura e o grito pela terra ao TRF6

A imagem é uma foto de grupo em um evento, onde membros de comunidades indígenas (um homem de cocar, uma mulher com criança e um homem de jaqueta) posam ladeados por autoridades (quatro pessoas em trajes sociais/ternos). Eles estão sobre um tapete vermelho e dois deles exibem uma camiseta branca com o texto "COMITÊ JUS-POVOS".

A causa indígena, intrinsecamente ligada à pauta ambiental, ganhou um espaço de visibilidade crucial no Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6). Em um evento que buscou promover o diálogo institucional sobre os povos originários de Minas Gerais, o povo Maxakali compartilhou sua visão de mundo, sua arte e a luta contínua pela preservação de seu território. A presença no TRF6 sinaliza a necessidade de reafirmação dos direitos de um povo que, apesar da resiliência, enfrentam muitos desafios sociais.

O presidente do TRF6, Vallisney Oliveira, destacou a importância da troca de experiências no “Prosa do Tribunal”, evento que recebeu os Maxakali: “Foi muito bom estarmos juntos, falando da nossa história, a história do povo brasileiro, a dos povos originários. Como se falou muito em terra na palestra deles no Comitê Jus-Povos, do povo Maxakali, cuja história é de sofrimento e resistência, e que o Tribunal Regional Federal procura essa interlocução para a gente conhecer mais e, além de conhecer, trocar essas experiências, receber esses exemplos do modo de vida desse povo tão admirável e resistente”.

A imagem é um close-up de um homem de meia-idade, com cabelos escuros e terno preto com gravata azul estampada, falando em um microfone de púlpito durante um evento. Ao fundo, parcialmente visível em um monitor ou tela, há um slide institucional que menciona um evento chamado "Prosa no Tribunal" e, em um painel azul e vermelho, o tema "CULTURA E HISTÓRIA MAXAKALI".

Essa aproximação do Judiciário federal com os Maxakali não é recente, tendo se iniciado em 2022, quando o TRF6, imediatamente após sua instalação em Minas Gerais, realizou seu primeiro evento itinerante exatamente no território Maxakali, buscando atender a processos previdenciários. “O povo Maxakali, assim como os povos originários no nosso Estado, ainda vivem em situação de vulnerabilidade, vulnerabilidade social, vulnerabilidade econômica e ainda uma necessidade de reafirmação dos seus direitos. Portanto, cada vez mais que eles ganham visibilidade, se aproximam do tribunal e o tribunal deles também, a gente reforça essa parceria e garante os direitos desse povo”, esclarece o servidor da Subseção Judiciária de Teófilo Otoni, Fernando Sfredo.

A imagem é um close-up de um homem de barba, vestindo um terno escuro sobre uma camisa social azul clara, falando em um microfone de mão. Ele está em um evento, com a expressão atenta e engajada, em frente a um fundo liso e claro.

Sueli Maxakali: sem terra, não há futuro

Sueli Maxakali destacou a indissociabilidade entre a cultura, a arte e o território. Ela expressou sua satisfação com a porta aberta pelo Tribunal, que permitiu o acolhimento e o fortalecimento do diálogo: “A arte demarca também a história, né? Sem a terra não tem cinema, sem a terra não tem educação, sem a terra não tem saúde melhor”. 

A imagem é um close-up de uma mulher indígena falando em um microfone de mão em um evento. Ela usa uma vestimenta (poncho ou xale) predominantemente vermelha e branca, com franjas e padrões geométricos, e um bracelete de miçangas colorido. Seu rosto está com pinturas escuras, e ela tem brincos circulares. O fundo é liso e claro.

Ela ainda enfatizou o papel vital da natureza e dos rituais, essenciais para a luta pelo fortalecimento dos territórios. Os Maxakali veem a terra não apenas como recurso, mas como terra viva. O esforço para recuperar as nascentes e a importância dessa colaboração que se consolida com outras instituições são percebidos como um olhar que volta novamente para o povo. “Pra nós, é terra viva, né? Foi muito importante para essa cooperação nascente, para voltarem a nos olhar, a gente está vendo o olhar que está voltando pra nós, né? Para nós podermos recuperar nossas nascentes”, finaliza Sueli. 

A luta contra a destruição

Apesar dos avanços no diálogo, a comunidade Maxakali enfrenta desafios ambientais imediatos. Sueli lamentou os episódios recentes de devastação causados pelas queimadas, citando que a área de Môa-ami-mati foi queimada.

Essa luta exige mobilização constante para o reflorestamento das aldeias, uma ação considerada vital para garantir o legado às futuras gerações: "pra nós deixarmos essa herança para nossas crianças".

Outro ponto de vulnerabilidade institucional levantado por Sueli é a escassez de apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai): a comunidade enfrenta a situação de ter apenas uma pessoa da Funai atuando em toda a região dos Vales do Mucuri e do Jequitinhonha.

Cura da terra e o poder da cultura

Isael Maxakali, também presente no encontro, expressou sua satisfação por apresentar a "cultura verdadeira" do povo Maxakali no Tribunal de Justiça, sublinhando que eles são o "povo do canto". Ele destacou a resiliência da comunidade, afirmando que não enfraqueceram sua cultura e nem seu território.

A imagem é um close-up de um homem indígena falando em um microfone de mão em um evento. Ele veste uma jaqueta puffer preta e possui pinturas escuras no rosto. Ao fundo, parcialmente visível em um monitor, está um slide institucional do evento "Prosa no Tribunal" com o tema "ARTE, CULTURA E HISTÓRIA MAXAKALI".

O foco central da atuação Maxakali está na recuperação ativa do meio ambiente: "Nós estamos curando a nossa terra e nós estamos fazendo reflorestando com o nosso projeto, Terra Viva."

O projeto "Hãmhi Terra Viva" é uma iniciativa abrangente que atende a cinco territórios em diferentes municípios e conta com uma equipe dedicada. Eles possuem agentes indígenas e "viveristas" que são responsáveis pelo cuidado do viveiro.

A ação de reflorestamento é comunitária e educativa, envolvendo a escola e todos os pajés. Isael Maxakali detalhou a necessidade de realizar mutirões com os estudantes para garantir a recuperação da área, visando trazer de volta a floresta, os animais e a pesca.

Ele aproveitou a oportunidade para agradecer o acolhimento do Tribunal Regional Federal e o apoio constante do Ministério Público Federal (MPF) de Teófilo Otoni, que tem auxiliado a Aldeia Escola Floresta.

Visão da Vulnerabilidade e Admiração Institucional

A presença Maxakali no TRF6, concretizada por meio do evento "Prosa no Tribunal, edição especial: história, arte e cultura Maxacali", não serviu apenas para que a comunidade falasse de sua arte e história, mas também para que a sociedade, bem como servidores e magistrados da Justiça Federal pudessem conhecer o modo de vida desse povo.

Os presentes no evento reconheceram a importância desse intercâmbio, que permite conhecer uma visão diferente da vida. Eles salientaram que o povo Maxakali inspira a busca por uma interlocução para troca de experiências e remete à admiração pela forma como os Maxakali resistem à pressão externa.

Max Ronald de Oliveira, um dos participantes do evento, destacou a "força com que eles sobrevivem diante do opressor, que somos nós, os que vieram de fora". Essa capacidade de resistência e a preservação cultural são vistas como fascinantes.

"É muito bonito vê-los preservar a cultura e mostrar a força que têm e mantendo sua língua e a sua cultura. E é fascinante perceber que isso ainda sobrevive."

O Tribunal Regional Federal da 6ª Região, através dessa parceria e visibilidade, pretende dar visibilidade à necessidade de preservação dos direitos fundamentais dos povos originários. A história do povo Maxakali é reconhecida como parte intrínseca da história do povo brasileiro, e sua luta pela “vivacidade da terra” é um apelo urgente que ressoa além dos limites de seus territórios.

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