O Comitê de Equidade Racial no âmbito do Tribunal Regional Federal da 6ª Região realizou a Roda de Conversa “Como Cheguei Até Aqui”, na última quinta-feira, 29 de maio. Com foco na trajetória de magistrados e magistradas negros e negras, o evento, coordenado pelo presidente do Comitê, desembargador federal Rubens Rollo, teve como mediadora a juíza federal Ariane da Silva Oliveira, representando a desembargadora federal Mônica Sifuentes, diretora da Escola de Magistratura e Revista do TRF6. Participaram da conversa os juízes e juízas federais do TRF6 Alcioni Escobar da Costa Alvim, Grigório Carlos dos Santos, Jeffersson Ferreira Rodrigues e Osmane Antônio dos Santos, além da convidada juíza de direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Isadora Nicoli da Silva.
Alcioni Escobar destaca que um encontro como esse tem grande importância num contexto de uma sociedade desigual e racializada, em que marcadores sócio-identitários influenciam nas oportunidades que cada indivíduo pode ter em sua vida. Ela também ressalta a relevância dos instrumentos institucionais e estatais para reequilibrar as forças sociais: “Ao mesmo tempo que ele traz uma ideia de subjetividade, ‘como eu cheguei até aqui’, trazer esse tema para dentro de um tribunal significa como nós chegamos até aqui. Ele traz uma ideia de institucionalidade. Nós não chegamos até aqui sem ações estatais, sem oportunidades, sem espaços, sem formas de discussão que vão para além da subjetividade, da individualidade. Nós precisamos ter um aparato das instituições para estarmos aqui. É uma relevância de fortalecimento de espaços institucionais para discutir temas caros para uma sociedade que se pretende plural, que se pretende justa, que se pretende igualitária.”
Quem também apontou o caminho das políticas de ações afirmativas como fundamental para a equalização das oportunidades igualitárias para todas e todos foi Ariane Oliveira, que lembrou, ainda, da escolha do mês de maio para se realizar o encontro: "Justamente em comemoração ao fim de um triste capítulo da história do Brasil, que é o da escravidão. Em 13 de maio, comemoramos o fim da abolição da escravatura com a Lei Áurea, e o Tribunal não poderia perder a oportunidade de reafirmar a importância de que situações graves como aquela nunca mais aconteçam e que as pessoas que sofreram e ainda sofrem até hoje tenham a verdadeira reparação."
Utilizando-se de uma metáfora náutica, o juiz federal Grigório Carlos dos Santos relembrou que toda a espécie humana deve navegar junta rumo a conquistas que se estendam à coletividade: “Não nos esqueçamos que nós, pretos, brancos, estamos todos no mesmo barco desse país; nós, pretos e brancos, estamos todos no mesmo barco desse mundo; nós, pretos e brancos, estamos todos no mesmo barco. Só que nós, negros, não queremos ficar só com o papel de remar — queremos também apreciar a paisagem.”
A equidade racial está diretamente ligada com a representatividade racial nos órgãos públicos, como no próprio TRF6 ou no Tribunal de Justiça, dentre tantos outros do país. A busca dessas instituições deve se pautar pelo espelhamento da sociedade brasileira em seus quadros de membros e servidores, conforme aponta a juíza de direito Isadora Nicoli da Silva: “Esse sistema de justiça está mudando, agora pessoas negras, pessoas de todas as etnias, podem e fazem parte desse Poder. O quantitativo de pessoas negras que ocupam a magistratura, seja magistratura estadual, do trabalho ou mesmo a federal, ainda é muito pequena e não espelha a sociedade, que tem praticamente mais da metade da população negra ou parda. Diante disso, nós estamos caminhando para um lugar de mudança, mas ainda há muito a ser feito.”
Encontros promovem inspiração e exemplos
O coordenador do evento, desembargador federal Rubens Rollo, ressalta a importância desses encontros como forma de inspirar todos que deles participam. “Nós convidamos magistrados para contar a experiência de vida profissional que os levou ao êxito de entrarem na carreira. A nossa intenção é um debate em termos de conversa informal, para que as pessoas, jovens principalmente elas, quebrem essa corrente de medo que tem, no sentido de que a cor seria um empecilho para o êxito na vida profissional. Nós trouxemos quem teve esse êxito profissional nesse país de discriminação velada para que conte a sua experiência, para que essas pessoas se sintam motivadas também a prosseguir no seu sonho”, finaliza o magistrado.