Escritora mineira recebe o maior prêmio da língua portuguesa

A escritora mineira Adélia Prado é a vencedora do Prêmio Camões, o prêmio mais importante da língua portuguesa. A decisão foi anunciada na manhã desta quarta-feira (26/6/2024) depois de reunião do júri de forma virtual.

Adélia Luzia Prado de Freitas é mineira de Divinópolis. É considerada atualmente como a maior poetisa viva do Brasil. Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se sua atividade principal. O surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras. Além de intelectual, Adélia é também mãe, esposa e dona de casa.

Segundo o júri, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética”. Além disso, eles frisaram que “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo...”. No mesmo contexto, destacaram que a escritora mineira Adélia Prado é, há longos anos, uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.

Os jurados foram o escritor e professor Deonisio da Silva (Brasil), o professor e pesquisador Ranieri Ribas (Brasil), o filósofo Dionisio Bahule (Moçambique), o professor Francisco Noa (Moçambique), a professora Clara Crabbé Rocha (Portugal) e a professora Isabel Cristina Mateus (Portugal).

O valor da premiação concedida a Adélia Prado é de 100 mil euros, um dos prêmios mais bem remunerados do mundo entre os prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) - e também do Governo de Portugal.

É o segundo prêmio que Adélia Prado conquista em menos de uma semana. No dia 20 de junho de 2024, a Academia Brasileira de Letras (ABL) anunciou que a escritora mineira foi a vencedora do Prêmio Machado de Assis 2024.

A Serenata

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Eu sou sentimental.
Choro à toa.
Vou ali e volto chorando.
Minha mãe me dava um dinheiro pra ir ao cinema,
eu gastava em doces
e ficava na esquina olhando os anúncios
e mastigando balas, pipocas, chicletes.
Há muitas explicações para o que fiz,
mas nenhuma justifica.
Eu achava que o amor fosse um filme.
Fiz greve de fome,
lutei por coisas que hoje me fazem rir,
mas fui feliz no meu desvario.
Fui amada e não sabia.
Acreditei em coisas que não via.
E a vida me prometia muito,
hoje, me sinto traída.
E ainda assim,
tão feliz,
aos trancos e barrancos,
ainda vivo, ainda amo,
ainda sinto o mesmo
deslumbramento das coisas miúdas.
Sou uma mulher que ainda sente dor,
uma mulher com a esperança
renascida em cada esquina,
uma mulher que ainda acredita na vida.

Adélia Prado

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