A segunda edição do Simpósio Memórias do Judiciário foi realizada nesta quinta-feira (22/05), na sede do Tribunal Regional Federal da 6ª Região. O evento abordou o tema “A história e os legados da escravidão: reflexões sobre o passado e o presente” e teve como objetivo discutir temas ligados ao período da escravidão no Brasil e seus registros em processos judiciais.
A supervisora da Seção de Biblioteca e Memória Institucional, Sara Torres, explicou que o tema da escravidão foi escolhido por sua complexidade e relevância contemporânea: “É um tema que não se esgota. Parece que já foi muito estudado, mas tem ainda muita coisa para ser estudada”. Ela mencionou a exposição de cinco processos históricos do acervo, nos quais pessoas escravizadas eram citadas como bens, e reforçou a necessidade de vincular passado e presente, para combater esse tipo de violação.
O secretário-geral do TRF6, juiz federal Antônio Francisco do Nascimento, fez a abertura do evento e destacou a importância da preservação de documentos históricos. O magistrado enfatizou que a memória institucional é muito importante para a vida e identidade da instituição e ressaltou a necessidade de revisitar o passado para evitar repetição de erros: “Nós temos uma visão histórica muito relevante e tiramos a conclusão de que cada vez revisitada seria uma percepção de que não se pode cometer erros”.
O vice-diretor do Foro da Seção Judiciária de Minas Gerais, juiz federal Grigório Carlos dos Santoos, participou da abertura e salientou que o evento promove uma ponte entre passado e presente na história da população negra no Brasil. Ele reforçou: “O Centro de Memória vai cuidar de trazer dados, que vão nos permitir dizer como nós éramos, como nós somos e como podemos vir a ser e o que devemos mudar para alterar esse quadro em que se encontra a população negra no Brasil”.
Durante o evento, historiadores convidados e integrantes da equipe do Centro de Memória realizaram palestras e painéis que detalharam o funcionamento da sociedade brasileira no período escravocrata, analisando casos judiciais antigos e suas implicações sociais. O diretor da Subsecretaria de Gestão Documental (SUGED), Silas Batista dos Santos alertou sobre o risco de apagamento histórico: “A memória finda assim até por força natural, ficando num segundo plano. Nosso papel é evitar que isso aconteça”.
A última palestra do dia foi feita pelo desembargador federal Edilson Vitorelli, que reforçou o compromisso do Judiciário no combate ao trabalho escravo contemporâneo: “O tribunal prioriza combater o trabalho escravo contemporâneo que é uma das práticas mais abjetas de todo o nosso sistema”. Ele elogiou a profundidade do simpósio e enfatizou a urgência em enfrentar questões históricas que persistem na sociedade brasileira.
Como encerramento, o diretor da SUGED, Silas Batista, declamou a poesia de sua autoria “A Memória que Vive”, refletindo sobre a importância de preservar o passado como ato de resistência. Em versos que dialogam com o tema do simpósio, ele evocou a memória como "semente adormecida" capaz de reviver no presente, destacando que documentos judiciais guardam histórias de dor, coragem e esperança.